"Egum" é um filme de terror que discorre sobre a questão do  genocídio da população negra e os traumas coloniais em uma narrativa sobre pessoas pretas, sob direção de Yuri Costa o filme transmuta o fenômeno racial brasileiro por meio de seus personagens que vivem pontos de inflexão. Após anos afastado devido à violenta morte do irmão, um renomado jornalista preto retorna para a casa de sua família na favela para cuidar de sua mãe, que sofre uma grave e desconhecida doença. Numa noite, o jornalista recebe a visita de dois estranhos, que têm negócios desconhecidos com seu pai. Esse encontro somado a outros eventos o levam a desconfiar que algo sobrenatural se abateu sobre sua mãe e  fazem-no temer uma nova tragédia.

A mescla de surrealismo e referências iconográficas de Frantz Fanon, Édouard Glissant  e Abdias Nascimento, eleva o tom sobrenatural e a tensão vivida pelos personagens. Distanciando-se da estética atenuada e lúdica, comumente utilizada em obras de tom surreal, o filme busca tornar o surreal o mais real possível, explorando as texturas das paredes e reflexos de azulejos comuns de uma residência periférica. Trabalhando zonas de alto contraste demarcadas, a sombriedade do filme se mantém presente ao longo de toda a obra, os movimentos de câmera de mão reforçam a imersão do espectador, que é transportado para dentro da cena. Além disso, a seleção de lentes estabelece uma estética de plasticidade nas peles dos personagens, somada a luz marcada, os poros e expressões faciais são evidenciados criando um aspecto de excesso em que sentimos a respiração e o suor dos personagens em cada cena, aumentando a tensão do espectador para o trágico destino dos personagens."Egum" é um filme de terror preto que procura entender por que a carne mais barata do mercado é a carne negra e por que o povo preto - bem como nossos antepassados - não está em paz.